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Positividade tóxica

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Você já ouviu falar em positividade tóxica? Este é um conceito que está em alta atualmente. Ele se trata de um fenômeno de negação da tristeza e de outras emoções consideradas negativas, como a angústia, medo, raiva, por exemplo. Ela impõe a nós mesmos e aos demais atitudes falsamente positivas, onde se generaliza um estado de felicidade e otimismo seja qual for a situação.

Quero deixar bem claro aqui que não há nada de errado com a positividade, considero ela como uma força que nos impulsiona a seguir em frente. A grande questão é quando ela se torna prejudicial invalidando os verdadeiros sentimentos, quando não permite que a pessoa expresse o que ela está vivendo ou sentindo.

Talvez você tenha algumas atitudes neste sentido e não tenha se dado conta. Frases do tipo: “Mas pelo menos…”, “É só você pensar positivo”, “Fulano faleceu mas deve estar melhor do que nós”, não acolhem e validam a dor do outro. Quando alguém compartilha conosco seus sentimentos negativos, em vez de corrermos para fazer essa pessoa se sentir melhor ou pensar mais positivamente, tente refletir sobre seu desconforto ou medo e faça o possível para ouvi-la.

Quando somos silenciados em nossas emoções, especialmente por amigos e familiares, podemos nos sentir desamparados. Quando ouvimos alguém empaticamente podemos estar fazendo a diferença na vida desta pessoa. Para trabalhar as nossas emoções negativas, não devemos ignorá-las, mas sim reconhecê-las e aceitá-las. A partir do momento que mascaramos nossos sentimentos, passamos a ter dificuldade de acessá-los, podendo chegar a um ponto onde não conseguimos mais identificá-los. Mas eles estão lá, no seu inconsciente e em algum momento podem somatizar em forma de adoecimento psíquico.

Um estudo publicado pela revista científica “Journal of Personality and Social Psychology” evidenciou que as pessoas que evitam entrar em contato com seus sentimentos negativos, apresentam mais problemas de saúde mental dos que as que costumavam reconhecer e aceitar as suas emoções. Uma sociedade que nega suas emoções pode acabar perdendo a sua capacidade de sentir empatia pelas outras pessoas. Essa falta de empatia pode ser vista quando pensamos estar consolando alguém com frases motivacionais, desqualificando seu sofrimento.

O positivismo tóxico está em evidência principalmente pelas redes sociais, onde muitas vezes comparamos a nossa vida com as vidas perfeitas que vemos na internet. Se houvesse mais honestidade sobre as vulnerabilidades, nos sentiríamos mais livres para experimentarmos todos os tipos de emoções. E tudo bem, não estar tudo bem. É legal pensarmos que tudo vai dar certo, mas sabemos que as pedras no caminho são inevitáveis, temos que aprender a contorná-las de forma madura.

Queimar essa etapa de ignorar as nossas verdadeiras emoções é um sintoma dessa sociedade que não nos permite sofrer, que não permite que tenhamos angústia; e por não permitir não elaboramos a dor, não elaboramos as perdas e muitas vezes vamos feridos para outras experiências sem cicatrizar as feridas que precisariam de cuidados e seguimos sem capacidade de enfrentamento.

Espero que este artigo te faça refletir sobre o teu posicionamento frente a tua própria vida e como age com relação as demais pessoas as quais convive, positividade da forma trazida no artigo é tóxica sim. Ao acreditarmos que afirmações de positividade contínua, e que a felicidade é uma obrigação começamos a nos esforçar para não sentir medo, raiva, tristeza, emoções que, apesar de desconfortáveis têm funções essenciais à sobrevivência humana.

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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