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Você concorda que velhice deve ser considerada doença?

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Trago este artigo para refletirmos acerca da discussão que está vigente nas últimas semanas sobre a nova classificação do CID 11. O CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) é uma tabela publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com objetivo principal de padronização de diagnóstico. A nova edição está prevista para entrar em vigor em janeiro de 2022, prevendo a adição da “velhice” como doença sob o código MG2A, com prazo de até três anos para implementação.

A alteração, acarretará um estigma ainda maior aos idosos e poderá trazer uma série de dificuldades com as quais nossa sociedade terá de lidar. A começar pelo fato de que a proposta não é clara em relação à idade a partir da qual o paciente seria considerado “velho”. Se no Brasil idoso é oficialmente utilizado para pessoas a partir dos 60 anos, na Itália, por exemplo, opta-se por adotar os 75 anos como padrão.

Acredito que essa nomenclatura “velhice” será um grande retrocesso a tudo que precisa e já foi conquistado até aqui em termos de políticas públicas para os idosos. Poderemos perder a real dimensão de certas doenças, retardando a adoção de políticas em resposta ao rápido envelhecimento global. Considero a velhice como mais uma fase da vida, assim como a infância, adolescência e adultez, cada uma delas tendo as suas peculiaridades e características.

Diversos setores ligados ao envelhecimento estão discutindo a gravidade desta nova classificação. A grande preocupação é mascarar problemas reais da terceira idade, aumentar o preconceito (ageísmo), e interferir no tratamento e pesquisas de patologias.

Considerar essa etapa da vida como doença poderá trazer problemas futuros, tornando esta fase indesejada, dando poder a indústria farmacêutica e do ramo da estética. Características físicas relacionadas ao envelhecimento como as marcas visíveis da longevidade poderão ser considerados sinais patológicos de uma doença que precisa ser tratada a base de medicamentos ou procedimentos até então estéticos, mas que a partir de então poderão ser utilizados para evitar o avanço da “doença”. A velhice como achado clínico ou sintoma alimentará ainda mais adeptos do antienvelhecimento. Provavelmente a sua “cura” será impulsionada.

Mas mais grave do que isso, será o problema causado no campo da epidemiologia, aumentando a invisibilidade dos reais problemas que afetam a população idosa, já que as causas sabidas e investigadas sobre a morte de pessoas idosas poderão ser sintetizadas em uma única causa, por não ser doença na sua essência, não teria critérios adequados. Sem os dados concretos não será possível fazer investimentos para o controle e redução de mortes por causas conhecidas como as cardiovasculares, oncológicas e neurológicas.

A classificação pode se tornar um problema de saúde pública a partir do momento que o profissional de saúde perder o interesse em uma investigação clínica mais detalhada de alguma doença quando ela apresentar sinais e sintomas inespecíficos, que são bastante comuns na terceira idade. Assim, se o paciente tiver 60 anos ou mais (considerando o Brasil), o médico poderá apenas entender que se trata de um problema de “velhice”.

Este tema tem causado uma grande mobilização nacional e internacional com a sociedade de geriatria e gerontologia, políticos, pesquisadores do envelhecimento, ativistas e movimentos sociais na tentativa de que esse código não seja validado internacionalmente.

Qual a sua opinião?

Você sabe o que ageísmo? O ageísmo é uma forma preconceituosa de criar estereótipos ou discriminar pessoas ou grupos pela idade e ela pode ser feita de diversas formas, por atitudes e práticas discriminatórias, condutas e políticas institucionais que excluem ou limitam a participação dos idosos.

Lidiane Andreza Klein Psicóloga CRP 07/22872

Especialização em Neuropsicologia- UFRGS

Mestre em Psicologia e Saúde – UFCSPA

Doutoranda Ciências da reabilitação – UFCSPA

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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