O que é o sedentarismo mental e como previni-lo?

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A melhor maneira de explicar o sedentarismo mental é fazendo uma analogia ao sedentarismo físico, que é a falta de exercícios físicos no nosso dia dia, o que a longo prazo acarreta em possíveis problemas de saúde tanto física quanto mental. O sedentarismo já é considerado um problema de saúde pública.

Embora o conceito de sedentarismo mental já exista a muito tempo, é recente as discussões, pesquisas e reforços ao seu combate. O sedentarismo mental, está relacionado a uma falta de estímulo adequado aos processos cognitivos ( memória, atenção, criatividade, raciocínio lógico, capacidade de abstração, resolução de problemas, percepção, linguagem, etc).

Da mesma forma que o nosso corpo necessita de exercícios frequentes para se manter saudável, o nosso cérebro também necessita de exercícios- atividades diferentes, para que ele possa manter funções que podem ir se perdendo com o passar dos anos, como a memória, o poder de concentração, a rapidez do raciocínio, a criatividade e a atenção.

Que fatores contribuem para o sedentarismo mental?

Em parte este sedentarismo mental se explica ao nosso modo de operar no “piloto automático”. Estudos científicos evidenciam que 80% do nosso dia dia é rotina, ou seja, atividades que fazemos repetidamente, o que não corrobora positivamente para o nosso cérebro. Seria interessante para o nosso cérebro fazermos atividades inéditas, estimulando-o a realizar novas conexões.

A era da informação e tecnologia pode ter influência negativa no desenvolvimento cerebral das pessoas, se não for utilizada de forma correta. Muitas pessoas estão se tornando mais desatentas, dividindo sua atenção com diversos estímulos (quando dividimos atenção, também dividimos rendimento). E aí perde-se a capacidade de concentração e foco, que é imprescindível para realizarmos de forma eficiente atividades laborais e de aprendizado.

Que mecanismos acontecem quando estimulamos cognitivamente nosso cérebro ou quando deixamos de utilizá-lo?

O cérebro é um órgão do corpo humano, mas podemos fazer uma analogia a um músculo, que se não estiver recebendo nenhum tipo de estímulo irá atrofiar. Um cérebro “parado cognitivamente” diminui a velocidade de informações entre os neurônios, pois uma mente estagnada não produz a bainha de mielina, essencial para que os impulsos nervosos sejam mais acelerados.

Já um cérebro ativo (no sentido de fazer novas atividades e desafios) irá formar uma reserva cognitiva, que é construída ao longo da vida, que servirá como uma proteção ao cérebro no processo de envelhecimento, ou mesmo em caso de algum acometimento (avc, tumores). As pesquisas apontam que o cérebro se alimenta de experiências: quanto mais complexas, mais estimulam conexões neurais. Trocando em miúdos: é preciso sair da zona de conforto, buscar desafios, aprender continuamente. Pessoas com esse tipo de “capital” têm perdas menores e são capazes de achar estratégias e formas alternativas de raciocínio. Por isso é tão importante que, desde a mais tenra infância, todos sejam estimulados, mas também é possível atingir novos patamares de reserva cognitiva na maturidade. É o que vai garantir indivíduos vivendo com autonomia por mais tempo. trata-se de uma capacidade muito importante que vale a pena cultivar e manter.

A Plasticidade Cerebral, refere-se a capacidade que o cérebro tem de mudar ao longo da vida. É a capacidade adaptativa do SNC (Sistema Nervoso Central), é a habilidade para modificar a organização estrutural e funcional em resposta às experiências (estímulos ambientais).

Que consequências o sedentarismo mental pode acarretar na nossa vida e principalmente no envelhecimento?

Acabamos subestimando os seus malefícios, porém o sedentarismo mental pode interferir na nossa vida, no curto prazo, através de bloqueios criativos, problemas de memória, dificuldades de aprendizado, fala de concentração e atenção, capacidade de planejamento, organização, automonitoramento etc. No longo prazo, está falta de estímulos cognitivos poderá ser um preditor de processos de Comprometimento Cognitivo leve ou mesmo em casos de demência tipo Alzheimer.

Que eu posso fazer para manter o meu cérebro ativo?

Manter um cérebro livre do sedentarismo e ativo pode ser bem mais fácil do que parece, e pode ser uma questão de hábito e principalmente objetivo de vida a longo prazo. Existe uma linha estimulação baseada na Neurôbica – que são atividades que se utilizam dos nossos cinco sentidos de novas maneiras, ou seja, fazer tudo que já faço porém de uma forma diferente. Ex. Tomar banho no escuro, escovar os dentes com a mão contrária, experienciar comidas diferentes, etc.

Fazer atividades inéditas, ou seja se desafiar e aprender coisas novas. Boas dicas são aprender um idioma diferente, aprender tocar um instrumento musical, aprender uma modalidade de dança que não esteja na sua zona de conforto.

Estímulos cognitivos através de atividades guiadas por profissional neuropsicólogo, que irá focar, após avaliação prévia das suas principais necessidades. A finalidade destes exercícios é exercitar a mente, treiná-la, estimulando-s e desenvolvendo-a, e gerar a formação de novas sinapses neuronais.

Existe alguma forma de eu saber se meu desempenho cerebral está correspondendo ao que seria esperado para a minha idade e escolaridade?

Existe um exame chamado de avaliação neuropsicológica, cujo objetivo é mapear o perfil neuropsicológico da pessoa. Nele cada uma das funções é avaliada e ao final é emitido um laudo com os resultados.

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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