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Ansiedade nossa de cada dia!

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Desde que iniciamos o período da quarentena uma unanimidade se fez presente nos meus atendimentos, a ansiedade. Fato preocupante pois o Brasil já ocupava o primeiro lugar no número de pessoas com transtorno de ansiedade, sendo a nossa média inclusive três vezes maior do que a média mundial. Chego a pensar que além da pandemia do coronavírus, temos uma pandemia de ansiosos, e é óbvio que estas incertezas com relação ao futuro que estamos vivendo, é o seu principal fato gerador.

A ansiedade em um primeiro momento tem um fator protetivo pois nos prepara para a ação, funcionando como um alarme que além de nos avisar de que há um perigo eminente, também nos prepara para reagir e enfrentar este perigo. Ela é fruto de uma resposta fisiológica do nosso organismo.

A ansiedade pode ser protetiva quando o estado de alerta propiciado por ela nos protege de situações em que precisamos agir com rapidez e com agilidade para evitar danos. Nos deixa mais ligados, prestando mais atenção ao ambiente a nossa volta, facilitando inclusive o armazenamento de informações na nossa memória.

A ansiedade também pode ser um alerta para os aspectos que precisamos mudar em nossa vida ou em nós mesmos. Se ela aumenta de forma repetida sobre um determinado assunto ou situação, este é, provavelmente, um sinal de que é preciso refletir e tomar alguma atitude para que não continue sendo sempre assim.

Sentir ansiedade em determinadas situações pode ser um processo adaptativo, porém desde que não traga sofrimento a pessoa. No entanto, algumas pessoas irão sentir uma ansiedade exagerada para algumas situações, que denominamos de ansiedade desadaptativa, ou seja, a ansiedade que, ao invés de auxiliar, acaba atrapalhando.

Quando a ansiedade passa a ser desadaptativa, interferindo no dia a dia e afetando o comportamento da pessoa, consideramos como um transtorno de ansiedade. Este transtorno mental faz com que a pessoa tenha pensamentos negativos e uma série de desencadeamentos de sintomas fisiológicos e emocionais que prejudicam sua vida social e rotina. Geralmente a intensidade do sintoma físico pode variar dependendo do grau e do estado de cada pessoa. Esses sintomas podem ser tão intensos que, muitas vezes, as pessoas buscam ajuda médica acreditando estar com problemas cardíacos ou em algum outro órgão.

Geralmente os sintomas físicos da ansiedade são os que mais assustam e que despertam a atenção da pessoa para buscar tratamento. Mas a ansiedade afeta o nosso corpo de várias formas:

-Sintomas emocionais: tristeza, nervosismo, irritabilidade, preocupações e medos excessivos;

-Sintomas fisiológicos: coração acelerado, sensação de formigamento, falta de ar, sudorese, tontura, dor de cabeça, dores musculares, insônia;

-Sintomas comportamentais: impulsividade, agressividade, fala acelerada, inquietação ou sensação de estar sempre “nervoso”, fadiga e sensação de cansaço constante, tremores e espasmos;

-Sintomas cognitivos: dificuldade de memorização, concentração e tomada de decisão;

Conforme os sintomas físicos vão aumentando, o psicológico entra em estado de alerta e tensão. Nessa hora o fluxo de pensamentos é bem maior e o conteúdo destes pensamentos é sempre negativo. O sentimento pertinente que faz parte da crise de ansiedade é a preocupação.

O transtorno de ansiedade pode acabar afetando a vida das pessoas em muitos aspectos, trazendo consequências no trabalho, nas relações conjugais e até mesmo no corpo, tudo isso contribuindo muito para a piora do quadro de ansiedade.

Existem diversos tipos de transtornos de ansiedade, mas por conveniência do momento abordarei os dois que se fazem mais frequentes neste período de pandemia.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um transtorno psiquiátrico caracterizado por um constante sentimento de preocupação e medo que interfere na vida diária. Pessoas com Transtorno de Ansiedade Generalizada podem experimentar sentimentos de pavor, angústia ou agitação por nenhuma razão discernível. Embora muitas pessoas com TAG percebam que sua preocupação é irreal ou injustificada, os sentimentos de ansiedade persistem e parecem incontroláveis, deixando os pacientes descontrolados.

O transtorno de ansiedade generalizada é o transtorno de ansiedade mais comum. Pode prejudicar a vida social, saúde, trabalho e vários outros setores do paciente.

Síndrome do Pânico

Com o transtorno do pânico, uma pessoa tem breves ataques de intenso terror e apreensão, muitas vezes marcados por tremores, confusão, tontura, náuseas e dificuldade para respirar. Esses ataques de pânico são definidos como medo ou desconforto, que surgem abruptamente em menos de dez minutos e podem durar várias horas.

Os ataques podem ser desencadeados por estresse, pensamentos irracionais, medo geral ou medo do desconhecido. É comum a pessoa diagnosticada com síndrome de pânico sempre evitar locais que despertem o sentimento de medo.

Existem diferentes formas e maneiras de tratar a ansiedade. Dentre elas, podemos listar terapias e medicamentos.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma terapia de curto prazo e a mais amplamente utilizada para transtornos de ansiedade. As pesquisas mostram que a TCC é eficaz no tratamento do transtorno do pânico, fobias, transtorno de ansiedade social e transtorno de ansiedade generalizada, entre muitas outras condições.

A TCC aborda padrões negativos e distorções na forma como olhamos para o mundo e para nós mesmos. Como o nome sugere, isso envolve dois componentes principais:

· A terapia cognitiva examina como os pensamentos negativos e as cognições contribuem para a ansiedade;

· A terapia comportamental examina como você se comporta e reage em situações que provocam ansiedade;

A premissa básica da TCC é que nossos pensamentos afetam a maneira como nos sentimos. Em outras palavras, não é a situação em que você está, que determina como você se sente, mas a sua percepção da situação.

Um mesmo evento, por exemplo, pode levar a emoções completamente diferentes em pessoas diferentes. Tudo depende das nossas expectativas individuais, atitudes e crenças. Para as pessoas com transtornos de ansiedade, as formas negativas de pensar estimulam as emoções negativas da ansiedade e do medo.

O objetivo da terapia cognitivo-comportamental para a ansiedade é identificar e corrigir esses pensamentos e crenças negativas.

Estamos em meio a uma crise mundial causada pelo coronavírus. Muitas incertezas com relação ao futuro rondam a nossa mente, tanto no que se refere a questões de saúde, como também a aspectos financeiros, seja no individual ou coletivo. Essas preocupações são muito propícias a desenvolvermos quadros de ansiedade. É importante que cada um de nós olhe para dentro de si e avalie se está conseguindo lidar bem com esta situação. Se perceber que não está dando conta sozinho busque uma ajuda profissional, nós estamos aqui para lhe auxiliar.

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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