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Desaparecidas sim, esquecidas nunca!

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Na última semana fui contatada para falar sobre as repercussões psicológicas enfrentadas pelos familiares de pessoas desaparecidas. Assim, fui dar uma pesquisada nas publicações da psicologia sobre o tema, e me deparei com raras publicações sobre o tema, o que me instigou a escrever e poder deixar uma contribuição.

Qualquer pessoa que se utilizar da empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro), consegue imaginar a dor de quem teve um familiar tido como desaparecido. As famílias passam a viver em um limbo, sem respostas. Vivem continuamente uma ausência.

O sofrimento psicológico é intenso, pois se vive na ambiguidade. Os sentimentos se misturam, ora estando esperançosos e em outros batendo um desespero. A pessoa desaparecida pode estar viva ou morta, e esta incerteza é fonte de um sofrimento indescritível. Os familiares passam a vivenciar um estresse diário, onde nervosismo, irritabilidade, angústia, ansiedade, falta de energia para o dia-dia e até depressão podem se fazer presentes.

O vazio deixado pelo desaparecido é como uma ferida que nunca cicatriza, fazendo com que os familiares não consigam realizar um processo de luto adequado. Elas não vivem o luto, pois passam a viver em luto.

Sentimentos de culpa por parte dos familiares são muito recorrentes. A culpa é uma emoção poderosa que pode dificultar o processo de enfrentamento, exacerbando o sofrimento psicológico das famílias. Pode vir em função do desaparecimento ou por se sentirem culpadas quando seus esforços de busca não levam a lugar nenhum. Interromper a busca pode significar para o familiar um abandono a pessoa desaparecida. Muitos familiares limitam seus contatos sociais, evitando atividades prazerosas ou novos relacionamentos para não trair a memória da pessoa desaparecida.

Enquanto familiares de mortos confirmados têm status específico – estão de luto- os das pessoas desaparecidas não se beneficiam de uma identidade social reconhecida. A terrível incerteza significa que não podem participar de rituais codificados, como rituais funerários, que ajudariam a dar significado a sua experiência e diminuir a sua dor.

Os desaparecidos também enfrentam o esquecimento, sem enterros ou locais de recordação, as famílias podem enfrentar dificuldades para manter viva a memória da pessoa desaparecida. O familiar da pessoa desaparecida trava uma luta constante não apenas para encontrar seu ente querido, mas também para afastar a possibilidade de que a pessoa desapareça da sua memória.

Ajustes psicológicos na maioria das vezes são necessários! Cada pessoa vai vivenciar está situação de forma diferente, mas é importante que cada um busque dentro si mecanismos de enfrentamento adaptativos. Não podemos mensurar a dor de ninguém, mas na minha opinião a dor de se ter um familiar desaparecido, de não saber seu paradeiro, deve ser uma das experiências mais dolorosas da vida.

Abaixo algumas atitudes que podem estar auxiliando o enfrentamento deste sofrimento ímpar:

-busca de novo sentido e ressignificação;

-espiritualidade;

-reconhecer a existência de sentimentos, emoções e percepções ambivalentes. Aceitar que a ambivalência é normal e pode ser administrada… aprendendo a lidar com ela e adaptando-se;

-expressar sentimentos;

-desenvolver tolerância a tensões e estresse;

-recuperar sentimentos de autocontrole;

-reinvestir energia física e emocional em outras pessoas e atividades;

-terapia familiar pode ser importante pois quebra possível silencio, cria conexões por meio das experiências compartilhadas e estimula rede de apoio;

*evitar o isolamento psicológico, ser capaz de expressar a angústia pode melhorar a sua capacidade de lidar com a situação;

A psicoterapia pode auxiliar muito no enfrentamento desta situação, não buscando incentivar quem sofre a esquecer ou aceitar passivamente a situação, seu objetivo é aumentar a capacidade da pessoa de entender melhor e lidar com sentimentos pessoais (tristeza, raiva, ansiedade, culpa, etc.), desenvolver gradualmente estratégias construtivas para conviver com a ausência do ente querido.

Finalizo me solidarizando a todas famílias que vivenciam ou já vivenciaram esta situação, todo meu respeito e estima de que um dia cada caso venha a ter seu desfecho.

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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