A ação de dirigir nos remete a uma ideia de liberdade, independência e autonomia, ou seja, uma sensação de controle e gerenciamento da própria vida. Por meio da condução de veículos automotores muitos idosos se sentem cumpridores de seus papéis sociais, porém trata-se de uma atividade complexa que requer habilidades físicas, cognitivas, comportamentais e sensório-perceptivas. O envelhecimento não necessariamente afeta a capacidade de condução de veículos, no entanto dirigir requer integridade destas funções, as quais tendem a decair com o envelhecimento.
No Brasil, não há idade mínima para uma pessoa parar de dirigir um carro, apenas que sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) esteja em dia. Por motivos de segurança, o Código Brasileiro de Trânsito preconiza que o motorista idoso deve fazer um exame de saúde para renovar a carteira de habilitação a cada três anos. Creio que cabe a cada um o bom senso e a consciência das suas limitações e principalmente a atenção da família a alguns indicadores como acidentes recorrentes, estragos não explicados no carro, desorientação espacial, e até perda de memória. Dirigir envolve riscos!
Tenho observado através da minha experiência clínica que este momento é gerador de conflitos, muitas vezes não sendo fácil aceitar que este momento chegou. Algumas pessoas por conta própria, utilizando o senso crítico e auto julgamento das suas limitações tomam esta decisão sozinhas. Outros casos com idosos mais resistentes a família acaba tendo que intervir, sendo que esta é uma responsabilidade da mesma, no sentido de garantir a integridade física do seu familiar e de terceiros.
Nos casos em que a intervenção familiar é necessária esta poderá ser respaldada através de uma avaliação do seu médico de confiança, podendo ser complementada por uma avaliação neuropsicológica. Este exame irá avaliar as principais funções cognitivas que são fundamentais para uma condução segura, e através da emissão de um laudo, com resultados objetivos fica mais fácil do idoso e a família visualizarem suas reais capacidades.
Deixo um alerta de alguns fatores que podem prejudicar a habilidade de direção nos idosos:
– Dificuldades visuais e auditivas
– Lentificação na velocidade do processamento mental e lentificação motora
Especialmente em quadros com declínio cognitivo somam-se ainda:
– Déficits de memória (não lembrar de trajetos ou para onde está indo)
– Desorientação espacial (perder-se em locais previamente conhecidos, não saber onde está)
– Dificuldades nas funções executivas (planejamento, automonitoramento, raciocínio, capacidade de julgamento e tomada de decisão)
– Déficits na atenção dividida (dificuldade em dar conta de todos estímulos simultâneos requeridos no processo de dirigir)
Enfim, envelhecer não significa aposentadoria da condução do seu carro. Para saber o momento de parar de dirigir é necessário prestar atenção na capacidade de cada pessoa e não necessariamente na idade, isso pode ser bastante relativo. Abandonar a direção não é de forma alguma sinal de fraqueza, mas é preciso humildade para admitir que o momento chegou.