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Meus pais envelheceram, e agora?

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Este artigo é escrito sob duas perspectivas. A primeira compartilhando uma visão e experiência da profissional psicóloga e a segunda como filha de pais que estão envelhecendo, sendo que há oito meses meu pai teve um AVC (acidente vascular cerebral) onde ficou hemiplégico (lado esquerdo paralisado), ainda seguindo em reabilitação.

Lidar com o envelhecimento dos pais não é uma tarefa fácil para a maioria das pessoas, e quando a doença se faz presente tudo tende a ficar mais difícil. Novos papéis são atribuídos aos dois lados, o que exige aceitação e adaptação para que tudo flua de forma harmoniosa e tranquila.

Percebo uma dificuldade de entendimento ao processo de envelhecimento que é inevitável, irreversível e multifatorial. Esta dificuldade de aceitação ao envelhecimento não é só por parte dos filhos, muitos idosos não lidam bem com esta situação. Nenhuma pessoa irá envelhecer igual a outra. O que é certo é que as perdas vão surgindo, sejam elas sensoriais, físicas e cognitivas, e estes declínios vão acarretando muitas vezes limitações, que podem ocorrer de forma gradual ou abrupta.

Por mais que se tente negar a situação em algum momento será necessário a tomada de consciência de que os pais estão envelhecendo. Aquele pai ou mãe de 30 anos atrás, já não é o mesmo de hoje. É muito importante que nós filhos estejamos fortalecidos emocionalmente para quando este momento chegar, pois ele pode ser muito demandante. Felizes aqueles que podem conviver com seus pais por longos anos, desfrutando de plena saúde.

Em algum momento da vida os papéis podem se inverter, nós filhos deixaremos de ser cuidados para sermos os cuidadores. Esta é uma fase de muitos desafios e fortes emoções. É muito doloroso ver aquele pai ou mãe cheio de vitalidade, energia e independência, ali tão fragilizado e dependente.

É responsabilidade de nós filhos, inclusive legalmente, velar pelo bem estar dos pais. Não só pelo dever moral, ou para retribuir por tudo que nos proporcionaram, mas acima de tudo para que tenhamos a tranquilidade do dever cumprido. A velhice dos pais requer um trabalho em conjunto, os filhos devem se unir e ajustar os papéis de cada um frente as demandas. Todos devem estar ativos nesta tarefa, a responsabilidade não deve recair em apenas uma pessoa.

Por experiência, percebo que em geral as famílias não conseguem fazer o ajuste adequado. Muitos conflitos familiares acontecem neste momento, e os idosos não são poupados. Assim estes conflitos acabam inclusive interferindo negativamente na saúde de seus pais.

Mas porquê custa tanto a certos filhos a dedicação aos seus pais?

-A qualidade das relações ao longo da vida têm impacto neste momento, nem toda relação entre pais e filhos foi baseada em afetos positivos. Alguns filhos guardam ressentimentos e não conseguem perdoar seus pais, mas precisam exercer a função de cuidado, e o exercem somente pelo dever. Nos casos que atendi, com esta situação posta, tento mostrar para o filho que os pais fizeram o melhor deles, mas ninguém dá aquilo que não tem. E que não é só tarefa dos pais ensinar os filhos, podemos enquanto filhos mostrar para eles o que é cuidado, com carinho e amor. Talvez não seja fácil, seja necessário auxílio psicológico para lidar com a situação, mas é importante que o façamos enquanto eles ainda estão aqui, pois depois carregar arrependimentos não te ajudará em nada.

-Falta de empatia, aquela capacidade de se colocar no lugar do outro. Eu estaria feliz se meus filhos se dedicassem a mim, da mesma forma que me dedico aos meus pais? Aqui não falo de prover financeiramente, que algumas pessoas acham que é o suficiente, mas sim prover emocionalmente.

-Egoísmo, sim muitos filhos são egoístas e só conseguem olhar para o seu umbigo e suas preocupações próprias. Sempre cheios de outros compromissos, não conseguindo priorizar aqueles que lhes proporcionaram a vida.

Pra finalizar deixo um conselho: Esteja presente na vida de seus pais, eles precisam da sua atenção, amor e a dedicação de um tempo de qualidade. Os filhos que podem acompanhar e ser protagonistas dos últimos anos de vida dos pais, têm a chance de retribuir todo afeto que receberam e sentir aquela sensação de dever cumprido.

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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