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O que 2020 veio nos ensinar?

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Chegamos a dezembro senhoras e senhores. Ufa, que ano! É inegável que 2020 foi um ano particularmente difícil para a maioria de nós. A pandemia do coronavírus está sendo algo ímpar na nossa história recente, chegou de forma muito rápida e mudou as nossas vidas, literalmente, de um dia para o outro. Se você é daquelas pessoas que pensa que este ano devia ser cancelado, não trouxe nada de bom, te convido para algumas reflexões.

Iniciamos o ano com uma alteração de estilo de vida e rotina, principalmente, ditadas pela recomendação do isolamento social, que fez com que muitas pessoas tivessem sua saúde mental afetada. As repercussões psíquicas, desde o início da pandemia, se deram e ainda segue devido principalmente, ao sentimento de incerteza, frente ao futuro. Embora vislumbramos a vacina ali na frente, ainda não temos a certeza da sua eficácia, tampouco quando estaremos imunes ao vírus. Na verdade, ainda não sabemos quando a “quarentena” irá acabar.

Muitos medos passaram a nos perseguir desde o início da pandemia, como o receio de contrair o vírus, de transmitir aos familiares, de como ele irá se manifestar no nosso organismo, medo de morrer ou que possamos perder algum ente querido ou amigo, aspectos econômicos. Todas estas questões, por estarem muito presentes no nosso dia a dia, geraram um estado de alerta constante. Levando muitas pessoas ao estresse, à ansiedade, a insônia, a irritabilidade, a depressão. Pessoas que já possuíam um histórico de doença mental tal como: ansiedade, depressão, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, foram as que primeiro sentiram os efeitos da pandemia, tendo seus quadros agravados. Pessoas que nunca tiveram nenhum sintoma começaram a desenvolvê-los.

É inegável que tivemos um ano difícil, mas será que foi de todo ruim? Será que necessita ser cancelado? A minha opinião é que não. Nos é sabido que os momentos de maiores crises, são os momentos que mais crescemos. Talvez, ainda imersos nesta realidade ainda não enxergamos o real aprendizado, mas ele virá, principalmente para quelas pessoas que estão dispostas a tal.

Este ano foi propício aos dispostos, uma introspecção, de se permitir olhar para dentro de si mesmo, compreender as suas emoções e principalmente quando necessário reconhecer que auxílio profissional especializado era necessário. Não é por nada que os atendimentos psicológicos têm aumentado muito neste período.

Aceitação foi uma das palavras deste ano. Tivemos que aprender a aceitar que não temos o controle sobre tudo, ao menos da forma que pensávamos ter. Talvez tivéssemos muitos planos para este ano, sonhos a serem realizados, e que por ora precisaram ser postergados, mas não banidos. O momento nos ensinou que para mantermos nossa saúde mental devíamos relaxar os limites, amenizando as nossas cobranças.

Na psicologia existe o termo resiliência, que é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas (choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros) sem entrar em surto emocional ou físico, encontrando soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. Este ano com certeza tivemos a nossa capacidade de resiliência posta à prova. Algumas pessoas conseguiram lidar muito bem com este momento (com ou sem auxílio profissional), sendo capazes de se beneficiarem, aprendendo e crescendo emocionalmente. É importante que cada um reconheça as suas batalhas vencidas!

São tempos difíceis, mas vão passar, podemos ter esta certeza. Que este período presente seja terapêutico, para que possamos valorizar o que realmente importa nesta vida. Não devemos continuar sendo os mesmos. O mundo pós-pandemia trará mudanças para todos nós. Mas, acredito que para as pessoas que utilizarem o momento para reflexões sinceras, com certeza, sairão pessoas muito melhores. Devemos acreditar que essa experiência tornará a humanidade mais solidária, empática e amorosa. As pessoas que estiverem dispostas e abertas a esse aprendizado, certamente se tornarão melhores.

Mudanças no plano moral, como uma utopia de que a sociedade e as pessoas se tornarão melhores, são difíceis de prever. Historiadores relatam que a humanidade já passou por inúmeras situações de crise, incluindo guerras e pragas. A história sustenta o argumento de que os comportamentos não mudam tão abruptamente. Aquele que é egoísta, individualista, egocêntrico, muito provavelmente se manterá desta forma, ou até terá um incremento negativo nestas suas características.

Prefiro ser otimista e acreditar que no mundo pós-pandemia, as relações humanas se modificarão positivamente, nos preocuparemos mais com o próximo. Que os sentimentos de solidariedade que são demonstrados agora sejam fortalecidos e se tornem uma prática natural. Neste momento, fomos obrigados a olhar um para o outro, a entender que o nosso bem-estar depende de uma ação coletiva e que cada um de nós é responsável pela sobrevivência de todos.

Ao mesmo tempo em que se recomenda o distanciamento social, em ambientes de trabalho e estudo, as famílias começam a ficarem mais próximas. Uma prova de fogo se iniciou. Relações, fragilizadas anteriormente, puderam ser ajustadas, assim como algumas outras aniquiladas de vez. As famílias que se uniram no enfretamento a essa crise e buscaram alternativas saudáveis, são aquelas que depois que tudo isso passar, estarão com seus vínculos fortalecidos, confiantes no poder das relações positivas. Este período foi propício, para colocarmos em prática tudo aquilo, que dizíamos ou justificávamos não fazer por falta de tempo.

Acompanhamos midiaticamente o crescente número de casos de contaminações pelo coronavírus, assim como o expressivo número de óbitos. Desta situação tiramos o aprendizado de que a vida pode ser breve, de que não temos aquele controle que julgávamos que tínhamos. Neste momento somos convidados a refletir nos valores da vida, daquilo que é essencial e que realmente importa para cada um de nós. Gostaria, muito de acreditar, que o maior valor estará no ser e não no ter, neste nosso mundo pós-pandemia.

De qualquer forma precisamos seguir confiantes, esperançosos, acreditando que este tempo vai passar. É conveniente estarmos abertos aos aprendizados, que esta experiência nos proporciona, sem nos esquecermos de seguir fazendo a nossa parte que é a prevenção.

Artigo de minha autoria publicado na Revista Expansão/ Dezembro de 2020

Lidiane Andreza Klein

Psicóloga CRP 07/22872

Especialização em Neuropsicologia- UFRGS

Mestre em Psicologia e Saúde – UFCSPA

Doutoranda Ciências da Reabilitação – UFCSPA

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Lidiane Klein

Especialista em Neuropsicologia pela UFRGS, Mestre em Psicologia e Saúde pela UFCSPA e Doutoranda em Ciências da Reabilitação. Trabalho com avaliação neuropsicológica, psicoterapia, reabilitação, intervenção neuropsicológica e estimulação cognitiva, principalmente para adultos e idosos.

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