Recentemente foi sancionada uma lei que institui que toda primeira semana de agosto será oficialmente conhecida, em todo território nacional, como Semana Nacional de Conscientização do TDAH (Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).
É relativamente normal conhecer, ou ao menos ter ouvido falar, crianças e adolescentes diagnosticados com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Mas há um contingente enorme de adultos que manifestam a condição, sofrem consequências severas na vida afetiva, profissional e social e, pior, nem sequer sabem por que têm a vida tão atribulada. Segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), há no Brasil cerca de 2 milhões de indivíduos nessa situação.
O TDAH é um dos diagnósticos mais comum na psiquiatria da infância e adolescência. Estima-se que cerca de 5% de todas as crianças preencham os critérios de diagnóstico do TDAH. Em adultos cerca de 2% apresentam sintomas do TDAH.
A existência da forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida apenas em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. E, desde então inúmeros estudos têm demonstrado a presença do TDAH em adultos. Passou-se muito tempo até que ela fosse amplamente divulgada no meio médico e ainda hoje, observa-se que este diagnóstico é apenas raramente realizado, persistindo o estereótipo equivocado de TDAH: um transtorno acometendo meninos hiperativos que têm mau desempenho escolar. Muitos médicos desconhecem a existência do TDAH em adultos e quando são procurados por estes pacientes, tendem a tratá-los como se tivessem outros problemas (de personalidade, por exemplo). Quando existe realmente um outro problema associado (depressão, ansiedade ou drogas), o médico só diagnostica este último e “deixa passar” o TDAH.
Na vida adulta, os sintomas específicos de TDAH raramente são relatados de forma espontânea, uma vez que são considerados “traços de personalidade” que, “na verdade, sempre estiveram presentes”.
O tripé ‘Desatenção, impulsividade, hiperatividade’ está presente nos adultos, sendo que na maioria deles a desatenção é predominante em relação à hiperatividade. A maioria dos adultos acabam por desenvolver estratégias compensatórias para lidar com seus déficits e os prejuízos por eles acarretados, especialmente os adultos que têm QI (Quociente de Inteligência) mais alto, condição socioeconômica estável e/ou outros fatores de resiliência.
Algumas características do TDAH no adulto:
– Déficit de atenção, distúrbio de concentração e desorganização: as pessoas com TDAH se veem como desatentas e esquecidas, muitas vezes parecem distraídas (“com pensamento longe”) ou sonhadoras. Elas têm dificuldade em acompanhar conversas e frequentemente mudam de assunto.
Os adultos com TDAH costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas atividades do dia a dia. Por exemplo, pode ser difícil para uma pessoa com TDAH determinar o que é mais importante dentre muitas coisas que tem para fazer, escolher o que vai fazer primeiro e o que pode deixar para depois. Em consequência disso, o TDAH fica muito “estressado” quando se vê sobrecarregado (e é muito comum que se sobrecarregue com frequência, uma vez que assume vários compromissos diferentes), pois não sabe por onde começar e tem medo de não conseguir dar conta de tudo.
É difícil sustentar trabalho e atividades que requerem um longo período de atenção (como palestras, seminários e reuniões) com estímulo e motivação insuficientes. Com frequência, essas pessoas perdem objetos (como bolsas ou chaves) e esquecem compromissos. Os indivíduos com TDAH acabam deixando trabalhos pela metade, interrompem no meio o que estão fazendo e começam outra coisa, só voltando ao trabalho anterior bem mais tarde do que o pretendido ou então se esquecendo dele.
Contudo, muitas pessoas com TDAH são capazes de concentrar-se extremamente bem e por longo período (“hiperfoco”). Algumas alcançam essa experiência que frequentemente é descrita como “paz e clareza interiores”.
– Impulsividade: em geral, as pessoas com TDAH agem impulsivamente e tomam decisões de maneira “visceral”. Posteriormente, classificam com frequência esses comportamentos como “precipitados”. Às vezes, essa impulsividade se torna evidente, principalmente sob a influência do álcool ou em reações críticas.
– Instabilidade emocional: pessoas com TDAH relatam mudanças frequentes e rápidas de humor. Essas mudanças de humor oscilam de raiva e agressão a depressão e euforia, geralmente no contexto de insatisfação geral, tédio e busca de estímulos.
– Hiperatividade: a inquietação motora visível na idade infantil (no subtipo hiperativo-impulsivo), frequentemente diminui ou desaparece na vida adulta. Mas frequentemente, os adultos com TDAH relatam “agitação interior” e sentem-se cronicamente tensos, com um “carrossel de pensamento”, em um círculo sem fim.
Estudos evidenciam que cerca de 75% dos adultos com TDAH apresentam mais de uma comorbidade, entre as mais comuns, depressão, ansiedade, compulsão alimentar, distúrbios do sono, drogadição e alcoolismo e dislexia, devido ao comprometimento de múltiplas esferas da vida.
Para adultos com diagnóstico tardio, ou seja, aqueles que nunca tiveram diagnóstico durante a infância e adolescência e que, portanto, já acumularam muitos prejuízos, a primeira coisa a saber é que suas dificuldades têm um nome e têm tratamento. A terapia cognitivo-comportamental é fundamental para ajudar a desfazer as crenças que já se instalaram em seu sistema de crenças, quanto às suas habilidades e capacidades. Conhecer tudo sobre o transtorno é outra ferramenta para lidar melhor com ele, e tratar os sintomas das comorbidades, que em geral acompanham adultos com TDAH.
Se você se identificou com os sintomas, busque pelo diagnóstico correto. Me procure que eu posso te ajudar.